terça-feira, 6 de março de 2012

O CRISTO ANTES DO JESUS HISTÓRICO!






Quando Jesus disse: “Abraão viu os meus dias e regozijou-se” — o que imediatamente se pensa é em uma visão de natureza profética, completamente subjetiva, dada a Abraão.

Já quando Jesus diz: “Antes que Abraão existisse, eu sou” — se imagina apenas a afirmação da pré-existência divina de Jesus em relação a Abraão.

Ficamos, todavia, em razão das amarras teológicas sem mística e sem a simplicidade apresentada na Bíblia, impossibilitados de simplesmente aceitarmos o que sobejamente se diz nas Escrituras; ou seja: que nelas não apenas há o que a respeito de Jesus constava como profecia, mas, também, como manifestação do Cristo anterior ao Jesus da História; o qual, fartamente, se manifestou aos homens; e que, no ambiente das Escrituras bíblicas do chamado Velho Testamento, faz inúmeras inserções soberanas de Si mesmo antes da Encarnação de Deus em Jesus.

Todas as vezes que aparece o Anjo do Senhor — esse ente Santo, supra-angelical, que evoca para Si mesmo prerrogativas divinas e que aceita adoração humana —, se está falando doCristo antes de Jesus

Ora, esse Anjo do Senhor pervade as paginas das narrativas bíblicas sem pudor ou salvo resguardo algum. Na existência histórica de Abraão, por exemplo, Ele aparece sem pedir salvo conduto. Simplesmente chega, é visto, é adorado, é tratado como Deus; e como Deus/Senhor fala sem qualquer reserva.

No restante da história de Israel o mesmo acontece em diversas ocasiões, embora não seja meu objetivo discorrer sobre tais ocasiões aqui. O que me interessa, no entanto, é esse Cristo antes de Jesus na História humana.

A Teologia mais crente vai bem até aí em relação ao que estou afirmando, mas impõe limites; e, os tais limites são o pacto de Deus com Israel; ou seja: Cristo teria se manifestado antes de Jesus, mas apenas na História de Israel; sendo Israel, portanto, uma fronteira para Deus em Cristo antes de Jesus.

Eu, todavia, como creio na Liberdade Absoluta de Deus, e não o vejo preso nem a Israel e nem a Abraão; posto que aquele Melquizedeque, sacerdote do Deus Altíssimo, que aparece do nadaa Abraão, e que é interpretado pelo escritor dos salmos e do da carta aos Hebreus como sendo claramente uma figura Crística, não aparenta carregar umbilicalidades de nenhuma natureza com Abraão ou com qualquer outro.

Na realidade o Anjo do Senhoro Cristo antes de Jesus, sempre se manifestou aos humanos; de tal modo que nem mesmo no mundo inteiro — como diria João — caberiam as narrativas de tais acontecimentos.

De fato, o amor de Deus pelo mundo não tem nenhuma fronteira em Israel; não teve nem mesmo nos dias do Jesus Histórico; e, portanto, não teria no Cristo antes de Jesus.
Este mundo de humanos tem sido objeto da revelação do Cristo Eterno desde sempre; e nunca deixou e nem jamais deixará de ser.

Jesus é a manifestação encarnada Dele entre nós; é o testemunho explicito Dele a ser dado a todos os homens; mas não é o limite da Sua manifestação livre; afinal trata-se do Cristo antes de Jesus; mas Jesus é o Cristo; sendo por isto Jesus Cristo; não uma emanação budista de um dos Budas; mas o único Cristo de Deus, o único Cordeiro de Deus; o mesmo que também foi imolado antes de haver História; ou, como afirmam as Escrituras, antes dos tempos eternos, ou antes da fundação do mundo; ou, como diz Miqueias: “desde os dias da eternidade”.

Sua única manifestação Crística encarnada, todavia — com nascimento, morte e ressurreição —, aconteceu em Jesus, e em Jesus somente.

Porém, Sua manifestação na História é aquela que nunca faltou em nenhuma fase da História Humana, bem como em nenhuma manifestação do que quer que seja sequencia de existência de qualquer mundo, criação ou dimensão cósmica ou multi-cósmica.

Ele não é apenas “o Cristo de todos os caminhos”, mas também o Cristo de todos os mundos, camadas de existência ou dimensões!

O que na Bíblia se chama de “Ordem de Melquizedeque”, é apenas uma designação para determinar o Cristo Eternamente Deus/Livre de toda circunstancia humana, racial, étnica, histórica, social ou religiosa — além de claramente colocá-Lo no plano das multidimensionalidades em Suas revelações graciosas, soberanas e salvadoras.

Abraão viu os Seus dias e regozijou-se!... E pergunto: E quantos mais também não o viram ou o têm visto e se regozijado?

O Cristo a nós revelado é obvio em todas as camadas de existência da Criação em todas as suas dimensões! — provavelmente exceto para nós!

Ele é o Senhor, o Salvador e o Deus de toda Criação; e é triste que a Religião pretenda Dele fazer um deus seitificado, religiogizado, não apenas manifestado na História, mas preso aos acontecimentos da cronologia de dois mil anos atrás; em cuja ocasião Ele se deu a conhecer na linearidade do tempo/espaço, como a revelação do Mistério antes a nós oculto; mas já agora revelado de modo não sequencial a muitos, se não, a todas as formas de criatura e criação.

Esse Anjo/Cristo/Deus que se encarnou em Jesus, é o Deus de todos, mesmo antes do menino Jesus torná-Lo um fenômeno de fraqueza em morte no tempo/espaço.

Em Jesus o Cristo entra na História da mortalidade e dos limites absolutos; na História da Tentação; na História da Morte; na História da Ressurreição; na História da Humilhação e da Gloria como vitória sobre a dor, a fraqueza, o sofrimento experiencial e o andar em carne de mortalidade.

Ele, porém, nunca negou Quem fosse; e disse aos que tinham em Abraão a suprema referencia do seu parentesco com Deus em fé: “Antes que Abraão existisse, Eu Sou!”.


Nele, que é de fato Deus e Senhor de tudo e de todos,

A QUEDA DE SATANÁS E AS NOSSAS QUEDAS SATÂNICAS!...






Paulo nos diz que a queda de Satanás deu-se em razão da soberba; e quando assim afirma faz uma advertência quanto a que não se “ordenasse” ninguém espiritualmente imaturo para o ministério do serviço aos santos; ou seja: à Igreja.

Na realidade pouco se sabe sobre essa “Queda de Satanás”, exceto pelas referencias arquetípicas que aparecem em Isaías e Ezequiel, a primeira relativa à soberba de Babilônia e a segunda concernentemente à soberba do Rei de Tiro.

No mais, não fosse pela alusão que Paulo faz à soberba do diabo e sua queda [laço], pouco ou nada se teria, posto que tudo o mais nos venha das construções judaicas extra bíblicas e do aproveitamento delas pelos primeiros “pais da Igreja”.

No entanto, havendo [...], como de fato há a figura real de Satanás, pouca coisa faz tanto sentido espiritual e psicológico, como atribuir sua “queda” ao pecado da soberba; ou seja: ao seu Narcisismo; e, nesse caso, a lenda grega do Narciso seria a versão não bíblica do fenômeno satânico do auto-encantamento com a própria beleza, grandeza, poder e formosura [...] — o que refletiria o Inconsciente Coletivo Humano como fonte de informação de tal ocorrência oculta nas sombras da Bíblia.

O fato, todavia, psicologicamente, é simples: toda criatura dotada de dons especiais corre o risco de surtar de paixão por si mesma!

E mais:

Seja isto [...] relacionado ao que quer que seja, porém, inevitavelmente este é um fenômeno que nunca se desvincula dos poderes da genialidade, da inteligência, da beleza, da força de persuasão, do charme encantador, do poder de influenciar, da capacidade de se fazer maior ou melhor [...] aos sentidos dos demais.

Entretanto, em nenhum espaço psicológico tal fenômeno encontra melhor ambiente de expansão do que na “vivencia do divino”; ou seja: na experiência do santo, do ungido, do espiritualmente elevado, do superdotado de dons; sejam dons de sabedoria, de conhecimento, de profecia, de milagres, de curas, de persuasão pela palavra..., etc.

A alma humana tem no Sublime que se aplique à criatura a sua maior e mais insidiosa tentação!...

É quando a criatura se acostuma a ser tão especial, que, não se esquecendo de si mesma [...], todavia, se esquece apenas da Fonte de Origem da Graça que a tornou tão especial.

Este é o pecado da virtude; o pecado da maravilha; o pecado da beleza [seja ela de que nível e perspectiva possam ser]; o pecado do poder que influencia e mobiliza; o pecado dos contemplados; o pecado dos seres singulares; o pecado dos celebrados; o pecado dos ungidos; o pecado dos profetas; o pecado dos líderes; o pecado dos que carregam oráculos; o pecado dos mestres; o pecado dos gurus; o pecado dos mensageiros que passam a crer que a mensagem é deles!

Ora, em qualquer ambiente da existência tal pecado se oportuniza; porém, quando acontece de ele ser vinculado explicitamente ao “divino”, então, sua potência e profundidade não têm termos de comparação.

Um homem ou mulher belo; um indivíduo rico materialmente; um político influente; um artista extraordinário; um empresário de sucesso; um grande proprietário; etc... — frequentemente se tornam arrogantes, altivos, soberbos e enfatuados; porém, nunca no nível dos que associam seus poderes aos da “divindade”.

Quando, porém, a “virtude” decorre da “representação” de Deus na existência, então tal surto se torna incontrolável em suas expressões de grandeza e delírio!...

Até mesmo os grandes reis e imperadores, ou mesmo líderes políticos como Hitler, precisaram de alguma forma de “unção divina” para que seus surtos de grandeza atingissem os níveis satânicos que alcançaram; e isto pode ser verificado em exemplos que nos vêm da antiga Suméria, dos gregos clássicos, dos babilônios, dos persas, dos romanos, dos papas cristãos, dos profetas e mulás políticos do islã, ou mesmo dos governantes políticos ungidos do protestantismo.

Entretanto, nada se compara em dissimulação de virtude satanizada e oculta [...] aos que exercem os papéis de ungidos do Senhor nos ambientes da religião; seja ela grande ou pequena; seja a partir de uma grande catedral ou no fundo de um quintal; seja com estolas e aparatos ou apenas com chapéu de palha na cabeça [...]; mas se o povo olhar para tal pessoa como o representante de Deus, então, inevitavelmente Satanás ali encontrará o seu lugar de instalação gradual e poderosa.

Daí a ênfase do Novo Testamento ser no Corpo de Cristo, e não em indivíduos como expressão de dons, carismas e poderes!

Sem que os dons sejam um exercício coletivo de poderes e graças, no Corpo de Cristo, todos surtam e tudo se sataniza. Sim; ninguém escapa!

Ora, até mesmo na coletividade do Corpo de Cristo, sem que o espírito simples de diaconia e serviço sejam a regra áurea, o surto inevitavelmente aparece; não na expressão do “eu sou”, mas na ufania do “nós somos”.

Não foi à toa que Noé, o salvador do mundo antigo tenha sido profanado sexualmente pelo seu filho Cão, pois, do contrário, seria mais do era como homem aos nossos sentidos; ou que Abraão tenha vacilado e duvidado, tomando Hagar para mulher, pois, do contrário, seria uma emanação de Deus no mundo; ou que Moisés tivesse que ter sido relativizado pela desobediência, não entrando na Terra da Promessa, pois, de outra feita, ele seria o Cristo; ou que Jó tenha tido suas iras e raivas expostos ante a tortura dos seus “amigos”, pois, sem que assim o fosse, ele nos seria “o varão de dores, e que sabe o que é padecer”; ou que Davi, o homem segundo o coração de Deus, tivesse que ter mostrado a sensualidade do seu coração de homem, pois, de outra forma, seria o rei dos reis; ou, para não irmos longe demais, que Pedro não tivesse negado e vacilado em algumas ocasiões, pois, em assim não tendo sido, seria mesmo, para todos [...], o Papa dos Papas; ou que Paulo não tivesse que ter carregado um espinho na carne, pois, de outro modo, seria um Médium entre o 3º céu e os homens.

São as revelações dessas desvirtudes humanas que salvam alguns humanos muito especiais de terem o destino de Satanás!

Aquele, porém, que não confessa os seus pecados, ou que não tem a benção de que eles sejam percebidos, ou que venha a dissimulá-los muito bem, em geral demonizam-se gradualmente sem que o percebam; e, mais adiante, tornam-se satanases de tropeço para si mesmos e para o povo.

Daí também a ênfase de Jesus em que o maior se tornasse o menor; que o mais elevado fosse o servo de todos; que o mestre fosse o que lavasse os pés dos demais; e, sobretudo, que se buscasse um lugar de humilhação diante dos homens, para que pudéssemos ser exaltados diante de Deus.

Sim; Jesus não apenas nos mandou sermos humildes de espírito, mas mesmo ordenou que nos humilhássemos diante dos homens; pois, do contrário, o coração de qualquer um viaja da vaidade à soberba sem que a pessoa note.

É somente em fraqueza que o poder de Deus pode se aperfeiçoar em nós; posto que a nossa natureza humana seja essencialmente satânica quando exposta ao “divino” sem que o seja em fraqueza.

O caminho da glória de Deus em nós é o caminho da nossa relativização consciente e confessada; bem como é a vereda do gloriarmo-nos nas nossas próprias fraquezas; pois, somente assim, em fraqueza, seremos fortes no poder de Deus.

Assim, somos remetidos para o caminho da fraqueza, do arrependimento que se confessa, da debilidade que se declara, da condição humana que não se esconde; e, sobretudo, somos remetidos a buscarmos em nós “o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus”; a fim de não cairmos no caminho satânico da usurpação do que é de Deus [...] e em nós esteja por Sua absoluta Graça.

Desse modo, quando vemos pessoas exaltando seus dons, ou convidando outras para provarem de seus poderes carismáticos; ou ainda: estimuladas pessoas a irem ao “lugar/divino/instituído para a manifestação do poder de Deus [...]; saibamos: estamos sendo cantados e seduzidos pela voz do próprio Satanás.

Olhemos para Jesus, que nunca fez propaganda de Si mesmo; e que não permitia que se divulgasse o que Ele mesmo fazia; posto que andasse segundo o Pai, e não segundo o diabo.



Nele, que a Si mesmo se humilhou e foi obediente até a morte, e morte de Cruz,